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PT -- FULL SPECTRUM DOMINANCE - Capítulo Três - Parte 1

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ou
DOMÍNIO DA UNIVERSALIDADE




CAPÍTULO TRÊS

Controlar a China com a Democracia Sintética

O que acontece com a distribuição do poder em todo o território eurasiático,
será de importância decisiva para a superioridade global da América ... ”


- Zbigniew Brzezinski

‘Ideias diferentes para pessoas diferentes…’

A estratégia militar e geopolítica fundamental dos EUA para a República Popular da China nunca se desviou do seu objectivo central, durante todo o período de 1945 até 2008. No entanto, as suas tácticas variaram consideravelmente, entre o que poderia ser chamado de diplomacia do ‘Big Stick (grande cajado)  e a diplomacia do pau e da cenoura.O primeiro usava ameaças militares directas; o segundo envolvia algo um pouco mais sedutor, mas perigoso, a longo prazo, para a soberania chinesa. A estratégia americana global de “dividir e conquistar” permaneceu em todos os momentos.

Essa estratégia tinha as suas raízes nos axiomas da geopolítica, os axiomas do geógrafo real britânico Sir Halford Mackinder. Para Mackinder, o objectivo principal da política externa e da política militar, quer dos britânicos e mais tarde, quer dos Estados Unidos, era impedir uma unidade, natural ou não natural, entre as duas grandes potências dos territórios eurasiáticos - a Rússia e a China. (1)

A maioria das principais elites políticas americanas dentro e à volta do influente Council on Foreign Relations (CFR) foi instruída na estratégia geopolítica de Mackinder. Entre eles estava o antigo Embaixador de Pequim, Winston Lord, antigo conselheiro de Henry Kissinger, que preparou a mudança de política de Nixon para com a China, em 1972; o  antigo Director e Embaixador da CIA, em Pequim, George Herbert Walker Bush; e o amigo de longa data de Bush, desde a CIA, o Embaixador da China, James R. Lilley. Tanto o Secretário de Estado Henry Kissinger como o antigo Conselheiro da Segurança Nacional, Zbigniew Brzezinski, eram defensores da geopolítica de Mackinder. Por razões óbvias, a sua dívida com Mackinder raramente era admitida, de maneira clara. (2)

Os políticos americanos do pós-guerra provieram de um número relativamente pequeno de famílias privilegiadas. A maioria deles fazia parte do círculo influente que girava à volta da família Rockefeller, especialmente John D. III e o seu irmão, o banqueiro David Rockefeller. Foi esse grupo específico que determinou a política do período do pós-guerra entre EUA e China.

O seu objectivo era manter sempre uma estratégia de tensão em toda a Ásia e, particularmente, na Eurásia. Por exemplo, os EUA ameaçariam o Japão com a perda da sua protecção militar, se não seguissem os desejos políticos dos EUA, e seduziriam a China transferindo a manufactura norte-americana para a China e, ao mesmo tempo, iriam proporcionar, de facto,  lucros enormes aos fabricantes americanos.

Independentemente das tácticas usadas, o objectivo final da política americana para a China, era a manutenção do controlo sobre a China como o potencial colosso económico da Ásia – controlo sobre o seu desenvolvimento energético, sobre a sua segurança alimentar, sobre o seu desenvolvimento económico, sobre a sua política de defesa ... sobre o seu futuro.

Em 2007, o controlo da China pelos EUA estava a tornar-se cada vez mais difícil, dado que as forças militares dos Estados Unidos estavam excessivamente comprometidas com guerras mal preparadas e com as ocupações do Iraque e do Afeganistão.

A política de Washington, embora ainda baseada no avanço da hegemonia militar dos EUA, passou a disfarçar-se por trás de questões dos direitos humanos e da “democracia” como armas de guerra psicológica e económica, na  sua tentativa de conter e controlar a China e a sua política externa.

AFRICOM: A Estratégia do ‘Recurso à Guerra’ do Pentágono  

Em Novembro de 2006, a China acolheu uma cimeira sem precedentes sobre cooperação económica, investimento e comércio com, pelo menos, 45 Chefes de Estado africanos. Washington não demoraria a responder ao novo interesse da China pela África. Em Junho de 2007, a Administração Bush e altos funcionários do Pentágono tinham autorizado a criação de uma divisão especial para África, a AFRICOM, com o quartel general em Stuttgart, na Alemanha.

Por que é que, depois de ter negligenciado a África - a África do Sul, ou os territórios ricos em petróleo, da Nigéria, Angola e Moçambique - durante mais de cinco décadas, Washington colocava, agora,  uma prioridade tão alta em África? E por que é que o compromisso dos EUA exigia a despesa adicional de um comando militar autónomo para esse continente?

Seria o“terrorismo” razão suficiente para que os EUA instalassem um comando militar separado, abrangendo um alcance impressionante de cerca de 53 países, no subcontinente africano? Não. A criação do AFRICOM foi a resposta de Washington à sua perda de controlo, cada vez maior, das matérias primas de África. Foi a China e não o terrorismo,  a razão não declarada da nova preocupação militar dos EUA sobre África.

Em 1º de Outubro de 2008, no meio do caos do colapso dos mercados financeiros dos Estados Unidos, o Pentágono lançou o seu novo Comando Militar, o USAFRICOM ou simplesmente o AFRICOM.

O Comando dos Estados Unidos para África (AFRICOM) era um novo Comando Unificado de Combate, do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Era responsável pelas operações e relações militares dos EUA, com 53 nações africanas.

Guerras dos Recursos: A “Estratégia da Modernização do Exército de 2008”

A explicação completa para esta nova instalação militar está no documento do Pentágono, Estratégia de Modernização do Exército de 2008.Este documento afirmava que o objectivo da estratégia do Exército dos EUA era abranger e dominar todo o universo, não apenas o mundo. Apelou para “um Exército expedicionário de qualidade de campanha capaz de dominar todo o espectro do conflito, a qualquer momento, em qualquer ambiente e contra qualquer adversário - durante longos períodos de tempo.(3) O documento prosseguia, “O Exército deve  concentrar os seus esforços a equipar-se e a modernizar-se, com dois fins de apoio mútuo - restabelecer o equilíbrio e alcançar o domínio de espectro total. ”(4)

Nenhum outro exército na História, teve objectivos tão ambiciosos.

Muito significativo, a Modernização do Exército previa que os Estados Unidos, pelo menos nos próximos “trinta a quarenta anos”, estariam envolvidos em guerras contínuas para controlar as matérias primas.

Além do mais, numa referência clara à China e à Rússia, o plano estratégico do Pentágono declarava: “Enfrentamos um regresso potencial às ameaças tradicionais de segurança colocadas pelos novos parceiros, pois competimos globalmente para esgotar os recursos naturais e os mercados estrangeiros” (5).

Em termos de crescimento económico, o único “parceiro emergente” do planeta, em 2008, foi a China, que estava a lutar e a remexer a Terra à procura de fontes seguras de petróleo, metais e outras matérias-primas para assegurar as  suas projecções de crescimento dramático.

Em termos de fornecimentos militares e de energia, o único potencial “parceiro emergente” seria a Rússia. A Rússia desempenhou um papel estratégico no fornecimento de praticamente todos os recursos vitais necessários para uma economia industrial avançada – tudo desde petróleo e gás até metais e matérias primas. A Rússia era o principal fornecedor dos Estados no sul da África, de recursos estratégicos que não estavam sob o controlo directo dos Estados Unidos. O papel crescente da Rússia em África, foi um factor importante  que determinou a política militar de confronto de Washington, de usar a NATO para cercar a Rússia, desde 1991.

A principal preocupação, nos círculos políticos do Pentágono e de Washington, era que a Rússia e a China aprofundassem a sua cooperação económica e até mesmo militar, provavelmente no âmbito da Organização de Cooperação de Shangai. Se tal acontecesse, como afirmou Zbigniew Brzezinski, a supremacia global dos Estados Unidos seria, necessariamente, desafiada.(6)

A Estratégia de Modernização do Exército de 2008, do Pentágono, era uma extensão da doutrina elaborada pelo solitário arquitecto estratégico futurista do DOD (Departamento da Defesa), Andrew  Marshall. Marshall, um analista experiente da RAND Corporation, trazido para o Pentágono, em 1973, tinha sido nomeado pelo Presidente Nixon para liderar um Gabinete Estratégico de Avaliações da Net, especialmente criado no Pentágono. Marshall recebeu um estatuto único e inédito na cadeia de comando: ele reportava-se apenas ao Secretário de Defesa, sem intermediários, na cadeia de comando do Pentágono.

Ao longo dos anos, Marshall, ainda encarregado da estratégia a longo prazo do Pentágono, apesar dos seus 87 anos de idade, criou grupos de discípulos para estabelecer a sua designada Revolução em Assuntos Militares (RMA). Ele contava entre os seus protegidos, Dick Cheney, Donald Rumsfeld, Paul Wolfowitz, Richard Perle e vários outros falcões de guerra. Foi Marshall que convenceu Rumsfeld e Cheney, em 2001, de que as instalações estratégicas de defesa antimísseis balísticos nas fronteiras da Rússia dariam aos Estados Unidos, a tão sonhada Superioridade Nuclear, a capacidade de lançar um ‘first strike’ contra a Rússia e destruir a sua capacidade de retaliação. (7)

A procura da Primazia/Supremacia Nuclear pelos EUA foi a verdadeira razão pela qual a Rússia reagiu tão fortemente, em Agosto de 2008, a uma provocação aparentemente periférica na Ossétia do Sul; também estava por trás, o desejo dos EUA de englobar a Ucrânia na NATO.

Marshall foi o arquitecto da estratégia desastrosa do “campo de batalha electrónico” de Rumsfeld, na guerra do Iraque - usando soldados “em rede” ligados à Internet e equipados com reconhecimento por GPS. No entanto, quando as críticas obrigaram o Presidente a abandonar Rumsfeld, Marshall permaneceu no Pentágono, intocado; tal era o seu poder.

Os EUA preparam a “guerra perpétua dos recursos”

A Estratégia da Modernização do Exército de 2008,revelou uma série de princípios estratégicos profundamente significativos e pressupostos operacionais que já tinham sido adoptados como doutrina oficial, pelos militares dos EUA. Na sua introdução, previu um futuro pós-Guerra Fria de “guerra perpétua”.

O oficial do Pentágono responsável pelo documento, General Stephen Speakes, afirmou no Prefácio:

Este documento de 2008 é radicalmente diferente dos elaborados nos anos anteriores. Este ano, chegamos ao cerne das questões com uma breve descrição da nossa estratégia de modernização - com os fins, meios e maneiras de como pretendemos usar o Army Equipping Enterprise para chegar ao fim do estado definido como: Soldados equipados com os melhores equipamentos disponíveis, fazendo do Exército, o poder terrestre mais dominante no mundo, com a capacidade total do espectro.

A América está empenhada numa era de conflitos constantes que continuarão a destacar a nossa força. Para vencer essa luta, necessitamos de um Exército que esteja permanentemente bem equipado - que tenha o que é necessário para os soldados cumprirem as suas missões através do espectro total do conflito.(8)

O documento do Pentágono salientava: “Entramos numa era de conflito permanente. . . um ambiente de segurança muito mais problemático e imprevisível do que o enfrentado durante a Guerra Fria.

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 Condutas de Petróleo no Médio Oriente e Bases Militares


Descrevia as principais características de uma era planeada de guerra contínua, incluindo a retórica habitual sobre terroristas usando armas de destruição em massa. Significativamente e pela primeira vez, desde o Memorando Estratégico-200 da Segurança Nacional, de Henry Kissinger, durante a Administração Ford, o Exército dos EUA declarava que entre as suas “missões” oficiais, estava o controlo do crescimento da população, em países ricos em matérias primas.(9)

O documento de 2008 citava o ‘crescimento da população’ como a ameaça predominante à segurança dos EUA e dos seus aliados, e exigia que as guerras controlassem os recursos das matérias primas. Relacionou estes dois aspectos:

O crescimento da população - especialmente em países menos desenvolvidos - exporá o “aumento da juventude” às ideologias anti-governamentais e radicais que, potencialmente, ameaçam a estabilidade do governo.

A competição pelos recursos induzida por populações a crescer e economias em expansão consumirá quantidades cada vez maiores de alimentos, água e energia. Os estados ou entidades que controlam esses recursos irão desenvolvê-los como parte do seu cálculo de segurança. (ênfase adicionada-w.e.) (10)


As duas prioridades oficiais do Pentágono - controlar o “aumento da juventude” da população, em países em desenvolvimento, ricos em recursos, e impedir que China e a Rússia controlem a comida, a água e a energia, do mundo em desenvolvimento - foram os motivos para a criação do AFRICOM.

Nunca antes a política externa dos EUA havia contemplado ou imaginado que tal força seria necessária; os Estados Unidos pensavam que controlavam os recursos da África. Mas, semanas depois da recepção de Pequim aos chefes de mais de 40 países africanos, em 2006, George W. Bush assinou a Ordem Presidencial, criando o AFRICOM.

Durante a Guerra Fria, o controlo da África pelos EUA e da sua vasta riqueza mineral, dependiam dos assassinatos e das guerras civis que os USA alimentavam secretamente, ou a cooperação de antigas potências coloniais brutais como a Grã-Bretanha, França, Portugal ou Bélgica. A elite de Washington ficou mais do que alarmada ao ver 43 chefes de Estado africanos tratados com respeito e dignidade pela China, que lhes ofereceu biliões de dólares em acordos comerciais, em vez de condições do FMI ou programas de austeridade impostos pelos EUA.(11)

De Darfur, onde a petrolífera estatal chinesa ganhou uma grande concessão de exploração de petróleo do governo do Sudão, até à Nigéria, Chade e África do Sul, Washington tentava combater a influência chinesa a crescer em toda a África.

Tendo identificado como sendo  uma ameaça, o aumento das populações no mundo em desenvolvimento, o documento da estratégia do Pentágono de 2008 destacou mudanças específicas de paradigma, na maneira como as guerras futuras deveriam ser conduzidas:

Recentemente, o Exército revelou sua doutrina mais actual, as FM 3-0 Operations, que fornece um plano para operar num futuro incerto e serve como o principal impulsionador as mudanças nas nossas organizações, treino, desenvolvimento de líderes, políticas abrangendo o pessoal, as instalações e o desenvolvimento de material.

O FM 3-0 institucionaliza como os comandantes empregam operações ofensivas, defensivas e de estabilidade ou apoio civil simultaneamente. O FM 3-0 reconhece o facto de que as operações do séc. XXI exigirão que os soldados se envolvam com as populações e com culturas diversas, em vez de evitá-las.(12).

Em certo sentido, o Pentágono estava a anunciar, oficialmente, o fim do “síndroma da guerra do Vietname”, que preconizava que os soldados dos EUA não fossem colocados em risco, restringindo o combate, principalmente, a ataques aéreos, como aconteceu nas guerras do Iraque e do Afeganistão, no início de 2002.

A seguir:

CAPÍTULO TRÊS – Parte 2  

Os “Direitos Humanos” Como Arma de Guerra

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com

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