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Evolução da população mundial 1950-2050 – O caso da Ásia - 2

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Evolução da população mundial 1950-2050 – O caso da Ásia - 2

Como e porquê a Ásia vai voltar a ser o centro económico do mundo (demograficamente sempre o foi) após cerca de 200 anos de domínio ocidental 

Sumário

1 – O esplendor civilizacional e a colonização
2 – Depois de II Guerra, a entrada no capitalismo globalizado
3 - Caraterização social e demográfica da Ásia Central e Oriental

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1 – O esplendor civilizacional e a colonização

Como referimos anteriormente, para uma abordagem da demografia da Ásia, separámos a Ásia Ocidental, mais especificamente a de matriz dominante islâmica e que vem sendo atravessada por grandes e longos conflitos, nos quais o denominado Ocidente tem tido enormes responsabilidades. O restante território – a Ásia Central e Oriental - abarca a grande maioria da população do continente, isto é, cerca de 91,5% do total, em 2016; e que, sem dúvida, constitui a área mais dinâmica, a nível global, do ponto de vista económico.

A Ásia Central e Oriental apresenta uma grande diversidade de culturas e, na generalidade, cada país comporta uma realidade compósita, com grande variedade étnica, linguística e religiosa. 

A sua história mostra um passado recheado de elevados elementos civilizacionais resultantes das ligações comerciais terrestres entre o mundo persa e a Índia ou da China com a Ásia Ocidental, através de canatos turcos ou mongóis, passando dali para o Mediterrâneo e para a Europa. Por seu turno, o comércio marítimo no Índico tem uma duração de largos séculos, com ligações entre a África Oriental, o Mediterrâneo, o mundo islâmico e a China e, no âmbito do qual surgiu uma forte penetração do Islão nas Filipinas, na Malásia, no Bangla Desh e na Indonésia.  

Quando os europeus, com os portugueses à cabeça, se envolveram nesse comércio, fizeram-no gradualmente, primeiro, através do controlo de entrepostos costeiros (Ormuz, Goa, Jaffna, Malaca…); a que se seguiu a ocupação territorial, nos séculos XVIII e XIX, neste caso, com papel mais relevante para ingleses e franceses, concentrando-se os holandeses nas ilhas de Sunda (futura Indonésia) e os espanhóis nas Filipinas e alguns arquipélagos do Pacífico Ocidental.

Os portugueses foram-se entrincheirando em Goa, Damão e Diu, sem saber o que fazer dessa posse, até que, em 1960, a Índia decidiu acabar com essa reminiscência colonial. Curiosamente, como demonstração de uma estreita visão estratégica, Bombaim (actual Mumbai, capital financeira da Índia) – então com 10000 habitantes - foi cedida ao rei inglês como dote da sua futura mulher, uma princesa portuguesa, em 1661; depois de entregue à Companhia das Índias, em 1675 já tinha 60000 habitantes, em 1687 passou a ser sede da Companhia e hoje tem uns 12 M de habitantes.

Essa ligação marítima direta (via Cabo da Boa Esperança) entre a Europa, o Índico e o Oriente fez reduzir-se a importância das rotas terrestres e veio a facilitar as conquistas russas na Ásia central e na Sibéria, dominando os vários canatos e as tribos turcas ou mongóis, construindo Tomsk em 1604, Irkutsk em 1661 e Vladivostok em meados do século XIX. A Inglaterra ficava limitada na sua expansão para o interior, a partir da Índia, pelo Himalaia, o Hindukush e a resistência dos afegãos. Por outro lado, o domínio turco do Mediterrâneo oriental e, mormente do Mar Vermelho, contribuiu para a preponderância da rota do Cabo como via de ligação direta entre o Oriente e a Europa.

Só a partir do início do século XIX as potências imperiais europeias se lançaram na ocupação da Ásia Central e Oriental. Na Índia, os ingleses souberam manobrar as divergências entre os vários marajás para se superiorizarem como dominantes, uma vez que nunca teriam meios para dominar, apenas pelas armas, um território tão vasto e com tal população - 255 M, em 1881, incluindo os territórios que hoje constituem a Índia, o Paquistão, Bangla Desh e Sri Lanka, contra os 57 M da Inglaterra que então incorporava a Irlanda[1]. A França, depois da perda da Luisiana e do Canadá -frustrando-se assim a construção de um império na América do Norte - virou-se para África e para a Indochina, conquistando esta última na segunda metade do seculo XIX. Os holandeses, por seu turno, governaram desde o século XVII e até à independência, o que se veio a designar por Indonésia. Entretanto, os EUA, aproveitando-se da fragilidade espanhola apoderaram-se das Filipinas e de Guam em 1898; e no ano seguinte Espanha vendeu as ilhas Carolinas, as Marianas e Palau à Alemanha, que veio a ser despojada das mesmas pelo Japão, durante a I Guerra. Por seu turno, o Japão, perdeu essas ilhas para os EUA com a derrota na II Guerra.

No início do século XX somente existiam na Ásia Central e Oriental cinco países sem ocupação colonial – a China, o Japão, a Tailândia, o Nepal e o Butão.

2 – Depois de II Guerra um novo modelo de capitalismo

Iniciamos de seguida uma mais detalhada caraterização da Ásia Central e Oriental com algumas notas sobre a Índia, a China e o Japão, as peças chave da geopolítica regional.
A Índia, a despeito do seu elevado nível civilizacional – ou talvez por isso mesmo - sempre se cingiu ao seu território, com a sua enorme diversidade étnica, linguística e religiosa, com escassa propensão expansionista. Por outro lado, a sua posição central no Índico permitiu ligações comerciais marítimas fáceis com a África, o Golfo Pérsico e o Mar Vermelho, com a costa leste do golfo de Bengala e, mais adiante, com as ilhas da Insulíndia e a China. As condições oferecidas pela existência de grandes rios como o Indo, o Ganges e o Bramaputra, permitiu populações numerosas e a incorporação de qualquer invasor - Alexandre, persas ou mongóis - em norma aceites como castas governantes. Essa riqueza natural conduziu ao florescimento da filosofia e ao surgimento de várias religiões – budismo, hinduísmo, jainismo, sikhismo – cujas configurações incorporam uma grande tolerância religiosa, incluindo o ateísmo; ao contrário dos atuais monoteísmos. 

Quando da independência, em 1947, a separação entre muçulmanos e não muçulmanos – há muitos séculos vivendo em conjunto - gerou a criação do Paquistão (cujo nome aliás não tem qualquer raíz histórica) com uma origem política animada pelos ingleses e que conduziu a massacres, deslocações de milhões de pessoas e várias guerras entre a Índia e o Paquistão. A aberração de inspiração britânica chegou mesmo ao ponto de se unificar sob a sigla Paquistão, povos tão distintos como punjabis, baluques ou pashtuns do vale do Indo e bengalis, povo do delta que une as águas do Ganges e do Bramaputra, separados por milhares de quilómetros, só porque todos são de confissão muçulmana. Como é evidente, essa artificialidade durou apenas 24 anos, até à separação do Bangla Desh face à tutela de Rawalpindi.

A Índia percebeu cedo (1991), perante o declínio económico observado no Ocidente em comparação com o dinamismo da Ásia Oriental que devia proceder a uma inflexão estratégica - “Look East”; por outro lado, as intervenções dos EUA e dos seus sargentos europeus no Médio Oriente dão uma imagem pouco tranquilizadora para a vizinhança. E daí que tivesse passado de observador a membro de pleno direito da OCX – Organização de Cooperação de Xangai, em 2017, tal como aconteceu com o Paquistão.

A Índia, com a China e a Rússia constituem as peças centrais da OCX como bloco euro-asiático de oposição ao mundo ocidental, mormente da suserania dos EUA, que entendem dominar ou condicionar o planeta através do dólar, das imbecis tiradas de Trump e do seu poder militar, através do cordão de bases com que os EUA envolvem o continente euro-asiático. Note-se que no OCX estão quatro potências nucleares, cerca de metade da humanidade, enormes recursos energéticos, uma rápida evolução económica, embora predominem regimes de duvidosas credenciais democráticas, mesmo entendendo por democracia os regimes de tipo ocidental, também oligárquicos e excludentes. Tendencialmente, esses países ficarão ligados por infraestruturas de transporte, geradoras de um maior fluxo de trocas que irão incorporar a Europa, como uma verdadeira península asiática, em termos geográficos e demográficos.

Há muito – desde o século XIV – que a China procurava o isolamento face ao exterior, admitindo apenas um limitado comércio com os europeus, quando estes se aproximaram, no século XVI; a sul e a norte rodeavam-se de estados vassalos e da Grande Muralha, enquanto os seus portos se mantinham fechados ao comércio com o exterior. Nesse contexto, atribuíram Macau aos portugueses, como entreposto comercial, em 1557 e, daí que nunca tivessem considerado o território como colónia; na realidade, com a instauração da república popular, o poder de facto em Macau cabia à China, embora houvesse um governador português. Durante a Revolução Cultural, a ação e a propaganda maoista estavam presentes em Macau, embora o governador fosse nomeado por um regime português, fascista e colonialista. Só em 1999 a soberania sobre Macau passou integralmente para a China, como uma região administrativa especial, tal como Hong-Kong, dois anos antes.

Numa época de feroz imperialismo como foi o século XIX, a influência das grandes potências coloniais europeias não podia deixar a China fora dos seus negócios, da sua rapina; quer os chineses concordassem ou não em se abrir ao “mercado” global. Assim, os ingleses, decidiram alargar o dito mercado, que se vinha cingindo à venda à China de ópio indiano para pagamento da seda, do chá e da porcelana chinesa, no único porto autorizado para as transações sino-britânicas, Cantão. 

Como o consumo de ópio na China ia provocando óbvios danos na população, o governo chinês decidiu a sua proibição. A reação inglesa fez-se através de uma guerra facilmente ganha (1839/42) que conduziu ao tratado de Nanquim, no qual a China se obrigou a aceitar o ópio, abrir mais quatro portos ao seu comércio, bem como a entregar aos ingleses a ilha de Hong-Kong. Após uma segunda guerra (1857/60) a China, perante os danos causados pelos anglo-franceses abriu mais onze portos ao ópio e teve de aceitar legações ocidentais e liberdade para comerciantes e missionários ocidentais. Como dizia, René Dumont, o colonialismo impunha-se através de 3 “m” – le militaire, le missionaire, le marchant.

Esses (entre outros) chamados tratados desiguais, repartiram áreas de influência para as potências imperiais - Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, Japão e EUA – numa humilhação para uma China que se considerava como o padrão civilizacional face aos “bárbaros” estrangeiros; por outro lado, pela sua dimensão geográfica, populacional e política - não era constituída por uma vasta gama de senhores como a Índia - uma ocupação colonial típica seria incomportável… como mais tarde o sentiram os japoneses. 

A norte da China, a Manchúria cai sobre a influência da Rússia e, após uma primeira guerra com o Japão (1894/95), cede Taiwan aquele e aceita uma provisória independência da Coreia, que passará a colónia japonesa em 1910. A sul, tradicionais vassalos do imperador chinês (Birmânia, Tailândia, Vietnam, Laos e Cambodja) caem na órbita britânica ou francesa, enquanto a presença alemã se observa no Shandong. 

A decadência e a humilhação elevam a reação nacionalista através da revolta dos Boxers em 1900, esmagada pelos exércitos ocidentais que se aproveitam da situação para aumentarem as suas reivindicações económicas. O surgimento do Kuomintang em 1905 dá expressão política ao nacionalismo e ao repúdio pelo regime imperial, abrindo caminho para a República, em 1912. 

A República, dividida pela influência de senhores da guerra, manteve-se sob a pressão do Japão, cuja intervenção no norte da China é acompanhada por uma grande violência, correspondente ao chauvinismo racista dos japoneses face a chineses e coreanos; é curioso notar-se que, tendo os japoneses uma ancestral origem na Coreia, recusem essa origem, desprezem os coreanos e considerem que o imperador é o mais recente descendente de um filho do … Sol. 

A República conseguiu ocupar a Manchúria mas não construir um regime estável e capaz de ombrear com os japoneses, daí surgindo a revolta do PCC, de Mao Tse-Tung, em 1927. Em 1931 o Japão invade a Manchúria e em 1937 inicia-se uma guerra total entre os dois estados, que conduzem à ocupação japonesa de quase todo o litoral chinês, com uma grande violência a exercer-se sobre a população, numa guerra que só terminará com a rendição dos japoneses perante os EUA, em 1945. 

A guerra civil entre os nacionalistas de Chiang Kai-shek e os guerrilheiros de Mao ainda duraria mais quatro anos até à derrota do primeiro, que se refugiou em Taiwan, com todo o apoio dos EUA que, ridiculamente, colocaram o regime de Chiang Kai-shek como membro do Conselho de Segurança da ONU, uma situação que durou até 1971, quando finalmente reconheceram a actual RPC.

O Japão tinha Nagasaki como único porto aberto ao comércio com os ocidentais, no âmbito de um pendor isolacionista semelhante ao da China. No âmbito da segunda presença de uma frota de guerra dos EUA, em 1854, o Japão assinou a convenção de Kanagawa, segundo a qual abria os seus portos ao comércio com os EUA; a que se seguiram posteriormente convénios semelhantes com as potências europeias.

Tirando as devidas lições dos procedimentos dos ocidentais na China, o Japão modernizou muito rapidamente a sua economia, criou forças armadas poderosas e decidiu acompanhar os ocidentais quanto a procedimentos imperialistas. Depois de uma primeira tentativa de conquistar Taiwan a uma China enfraquecida, o Japão, em 1872 ocupa as ilhas Ryu-Kyu, onde sobressai a muito conhecida ilha de Okinawa, onde está instalada, desde o final da II Guerra, uma base militar estratégica para os EUA procederem à vigilância do mar da China. 

Numa primeira guerra com a China (1894/95), o Japão apodera-se de Taiwan e retira a Coreia da órbita chinesa. Em 1905, após ter ganho a guerra com a Rússia, esta fica afastada temporariamente de ter influência na Manchúria e na Coreia – rica em minerais estratégicos - que é ocupada pelo Japão em 1910, até ao final da II Guerra. Com a derrota nesta última guerra, o Japão perdeu para a URSS a metade sul da ilha Sacalina (conquistada em 1905 pelo Japão), bem como as ilhas mais meridionais das Curilhas; e foi forçado a manter forças militares limitadas, bem como a aceitar a proteção militar dos EUA. A descoberta de reservas de petróleo nas águas territoriais dos ilhéus Senkaku (jap)/Diaoyu (chi), a oeste das ilhas Ryu-Kyu, vem alimentando um contencioso sino-japonês sobre a sua soberania.  

O Japão, derrotado em 1945 sob o efeito do terror provocado pelos ataques atómicos perpetrados pelos EUA, que ocuparam o país e onde mantêm cerca de 135 instalações militares, incluindo a presença de armas atómicas; tornou-se uma fortaleza militar norte-americana, vital para o seu controlo da Ásia oriental, mormente face à “ameaça” chinesa. Em contrapartida, o país desenvolveu-se como uma verdadeira potência económica, desenvolveu técnicas de gestão como o toyotismo e o kanban, aproveitando ainda a ligação sentimental dos trabalhadores para com as empresas onde trabalham e a aceitação de carreiras profissionais longas e intensivas; nesse contexto, gerou empresas poderosas de caráter global, com altas capacidades tecnológicas, como a Mitsubishi, a Nissan, a Sony e outras. É de referir o importante papel do Estado japonês em todo esse processo, através do seu ministério da indústria e planeamento, o MITI.

O caso do Japão veio a reproduzir-se em outros países asiáticos como a Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, Malásia e Hong-Kong; neste último caso, antes ou depois da sua incorporação na China, como região especial, no seio da política de “um país, dois sistemas” criada por Deng Xiao-Ping. Nestes territórios firmaram-se governos ancorados em ditaduras ou regimes musculados, promotores de um forte investimento estatal, articulado com o recurso a capitais estrangeiros, portadores de elevadas capacidades tecnológicas; para o efeito procedeu-se a uma aposta decidida num ensino de qualidade, ao estudo e desenvolvimento de tecnologias importadas, ao envio de estudantes para universidades europeias e norte-americanas e à procura de uma relativamente equilibrada distribuição de rendimentos. A construção naval desenvolveu-se muito na Coreia do Sul e em Singapura; nesta, em torno da manutenção da frota norte-americana de serviço no Vietnam, durante a guerra. Em contrapartida, a indústria naval europeia sofreu, uma grande redução, bastando recordar para o efeito o que aconteceu, em Portugal, com a Setenave e a Lisnave. Outras indústrias deslocalizadas para o Oriente foram a têxtil (entretanto redirecionada para o Bangla Desh e o Vietnam) ou as do material elétrico e da eletrónica.

O trabalho, submetido a uma grande disciplina e comparativamente barato protagonizou, nos anos 70, os primeiros passos da deslocalização por parte das multinacionais, cujos efeitos foram muito além da formação de lucros elevados e do desarmamento laboral e político das organizações de trabalhadores nos EUA e na Europa. A cultura dominante nestes mais dinâmicos países asiáticos é de cariz confucionista, induzindo disciplina, esforço e um espírito coletivista, elementos integrados para a produção de elevados níveis de desenvolvimento capitalista; que mais se evidenciam perante a estagnação que vem assolando os ocidentais, desde a Grande Recessão iniciada em 2008. 

A China, mais recentemente, vai reproduzindo o modelo referido acima, ainda que sem imitar as democracias de mercado vigentes nos países atrás citados; prefere proceder ao controlo social e político da sua imensa população, com um poder muito centralizado no enorme PCC, que está presente em todas as estruturas económicas, sociais e políticas e de onde partem ou são validadas todas as decisões, incluindo a nova política natalista. Note-se que a China não reproduz o modelo soviético de capitalismo de estado, permitindo o desenvolvimento de típicas empresas privadas, a par de um aparelho de estado tentacular que controla, sem protagonizar, a atividade económica, deixando esta aberta à inovação, à iniciativa. Uma das peculiaridades chinesas foi a criação, depois da chegada ao poder de Deng Xiao-Ping, de “zonas económicas especiais” para a fixação de capitais e tecnologias estrangeiras, atraídas nomeadamente pelos baixos preços do trabalho (ainda que superiores aos do resto do país), pelas isenções de impostos e pela rígida disciplina instituída pelo PCC; e que diferem, hoje, das regiões administrativas especiais, de Hong-Kong e Macau.

Note-se ainda que, exceptuando a Coreia do Sul, onde a influência chinesa é milenar, nos restantes países referidos a população é chinesa (Taiwan) ou, onde se verifica uma significativa presença de população de origem cultural chinesa, relativamente endinheirada e mantida coesa enquanto diáspora.

Os países do Centro e do Leste asiático vão construindo bases industriais avançadas e sólidas, sistemas financeiros pujantes, mercados internos com consumos elevados e um potencial exportador de bens e investimentos, num género de capitalismo com forte intervenção estatal, sem ser capitalismo de estado. Esse processo compreende diversos patamares de evolução; a Coreia do Sul, a China e o Vietnam ou o Bangla Desh, são exemplos desses distintos patamares. As deslocalizações iniciadas pelas multinacionais de raiz ocidental, aceleraram e intensificaram a globalização histórica, foram aproveitadas pelos principais países da Ásia Central e Oriental que construíram as suas próprias estruturas produtivas, compreendendo empresas nacionais, de capitais ocidentais, mistos ou transnacionais e que, recentemente vêm criando fluxos de investimento em sentido contrário, como se vem observando com a compra do Pireu pela China, do Terminal XXI em Sines, por Singapura ou o controlo da EDP pela Three Gorges.

As deslocalizações protagonizadas pelas multinacionais ou capitalistas ocidentais em geral vêm colocando dificuldades nos EUA e na Europa, a braços com regiões deprimidas, populações envelhecidas, estagnação do consumo (a base para existência do consagrado crescimento do PIB) que fazem adivinhar um futuro sombrio, com a criação de movimentos fascizantes, sobre as ruinas de uma esquerda inexistente ou fossilizada. 

A procura de trabalho a baixo preço tende a inverter-se geograficamente, sabendo-se que os salários médios em Portugal ou a Grécia vão-se tornando equiparáveis aos percebidos na China, o que é algo de inimaginável, há uma década.

Atualmente, os bancos dos EUA dedicam menos de 20% em empréstimos às atividades produtivas e 80% para as especulativas e as bolhas imobiliárias resultam de investimentos em busca da rendabilidade e não a satisfação das necessidades das populações, cujos salários se não adequam aos preços de compra/aluguer que exigem uma rendabilidade elevada perante a estagnação relativa dos salários. 

O capitalismo tende a tornar as pessoas como supérfluas. Nos EUA, em 1948/73 a produtividade cresceu 96,7% e os salários reais 91,3%; e em 1973/2015, fruto da deslocalização, a produtividade cresceu 73,4% e os salários 11.1%. Em 1965 um diretor executivo nos EUA ganhava 20 vezes mais do que um trabalhador e em 2013…296 vezes mais! Mais especificamente, o brilhante casal Blair, em 20 anos acumulou uma riqueza de $ 75 M[2]; porém, mais brilhante que o dito casal, só Trump que pretende uma “America great again” semeando sanções e armamento pelo planeta, gerando sorrisos a Xi Jinping, como grande arquiteto da Rota da Seda que tenderá a ligar três continentes – Ásia, Europa e África – sob a hegemonia chinesa.

3 - Caraterização demográfica da Ásia Central e Oriental

Na Ásia Central e Oriental, do ponto de vista étnico, é enorme a variedade de povos e culturas, mesmo no seio de cada um dos estados-nação. Os mais homogéneos são o Japão, a Coreia e a China; aqui, apesar da grande maioria da etnia han, há 56 grupos étnicos, embora estes apenas representem 9% da população total. 

Do ponto de vista religioso, a tradição islâmica evidencia-se nas antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central, no Paquistão, na Malásia, no Brunei, no Bangla Desh, nas Maldivas e na Indonésia, para além de uma numerosa minoria na Índia ou da minoria ouighur no ocidente da China. 

O budismo é maioritário na Tailândia, no Butão, em Myanmar, no Cambodja, no Laos, em Singapura, no Sri Lanka ou na Mongólia, nesta última, ao lado de uma grande faixa irreligiosa da população. As Filipinas e Timor-Leste constituem os únicos casos de maioria cristã (católica), devido aos longos períodos da colonização espanhola e portuguesa, respetivamente, iniciados no século XVI; e, na Coreia do Sul, os cristãos (protestantes e católicos) também são numerosos. Os hinduístas são a maioria no Nepal, nas Maurícias e na Índia, devendo ter-se em conta a enorme população deste último país.

No Vietnam os credos locais abrangem perto de metade da população contando-se mais de 25% de pessoas sem credos religiosos. Finalmente, os não religiosos, ateus ou agnósticos são 2/3 dos norte-coreanos, metade dos sul-coreanos e 42% dos chineses. No Japão apenas 30% da população se considera com uma confissão religiosa, havendo numerosos casos de sincretismo, entre o budismo, o xintoísmo. o taoismo e mesmo de várias versões do cristianismo.

As democracias de tipo ocidental, ou de mercado, com partidos políticos concorrentes a eleições, observam-se na Índia, no Paquistão, no Japão, na Tailândia, na Malásia, no Sri Lanka. Existem monarquias na Tailândia, no Cambodja, no Butão e no Brunei. A Malásia é uma monarquia sui generis pois o rei muda todos os cinco anos, numa rotatividade entre os reis dos nove estados federados.

Os regimes onde o predomínio de um partido-estado é manifesto, observam-se na China, no Vietnam – onde a histórica desconfiança face à China não impede que copie o modelo de privatizações e atração de capitais estrangeiros - ou na Coreia do Norte. Em Singapura, apesar de ter um regime parlamentar, o Partido de Ação Popular (PAP) vence todas as eleições desde 1959… O Myanmar também tem eleições mas o controlo da vida política e económica cabe à forças armadas, com uma presidência da república entregue a uma laureada com o Nobel da Paz, que se submete aos militares como se vem observando a propósito da perseguição aos rohingyas, como a outras minorias étnicas; o que não incomoda minimamente as grandes empresas indianas e chinesas que investem no país, nomeadamente na construção de… uma ligação entre o Sul da China e o Golfo de Bengala, - onde existem reservas de petróleo e gás (junto ao litoral onde habitam os rohingyias…). Essa via permitirá à China ter uma ligação ao Índico, vários dias de navegação mais curta do que a passagem pelo estreito de Malaca ou pelos estreitos de Sunda ou Lombok. Essa nova infraestrutura, porém, não beneficiará a ligação entre o Índico e o Japão ou a Coreia do Sul.

Entre as cinco repúblicas ex-soviéticas, a regra é a de regimes autoritários, com presidentes investidos por muitos anos. O Turquemenistão e o Cazaquistão dependem da exploração de hidrocarbonetos; o Uzbequistão, da produção de algodão com o recurso a mão de obra compulsiva; o Tadjiquistão das remessas de emigrantes e da produção de alumínio e o Quirguizistão de remessas de emigrantes e da produção de ouro.

O potencial económico e demográfico centrado no Extremo Oriente e na Ásia do Sul tende a constituir ali a região mais dinâmica do planeta, findando o escasso período de uns 200 anos em que o domínio político e económico se centrou nas duas margens do Atlântico Norte; o qual, em termos demográficos, foi sempre minoritário. Como atrás se viu, a população mundial é, cada vez mais, asiática ou africana.

Fonte primária: UNCTAD/CNUCED

Como procedemos para os casos da Europa e da África, repartimos os países da Ásia Central e Oriental em três áreas[3] – Índico, Oriente e Sudeste. No primeiro caso, grosso modo, enquadrámos os países virados para aquele oceano, quase todos tendo feito parte do britânico Império das Índias. O segundo conjunto – Oriente – enquadra os países que bordejam o mar da China Oriental e ainda, aqueles do interior, maioritariamente de etnias turca ou mongol, incluídos na URSS até ao desmembramento desta. O terceiro – Sudeste – rodeia o mar do Sul da China e a sua área é em grande parte, insular. 
A evolução da população da Ásia Central e Oriental duplica no período 1970/2016, no âmbito de uma grande regularidade, prevendo-se um aumento mais contido para o período findo em 2050 – 0.45% anuais - com todas as reservas que se possam colocar quanto a eventuais alterações políticas, ecológicas, tecnológicas e económicas que possam acontecer, imprevisíveis ou mais previsíveis, embora, entre as últimas, com impactos aleatórios.
Como bem se revela no gráfico abaixo, essa regularidade e esse grau de incremento populacional deve-se sobretudo às regiões do Índico e do Sudeste, as mesmas em que as previsões da CNUCED/UNCTAD mostram maior crescimento. Em contrapartida, no Oriente, o crescimento populacional apresenta-se muito mais modesto em 1970/2016 – mesmo assim, com um crescimento muito superior ao da Europa (6% em 1970/2016 e com um retrocesso demográfico previsto para 2050). Para o Oriente, as previsões apontam para um ligeiro retrocesso populacional da ordem de 30 M de pessoas.

A repartição da população pelos três grandes agregados de países revela (gráfico abaixo) que até 2010 o agregado mais populoso era o do Oriente e que este deixou de o ser em 2016, para além de ter perspetivas de forte quebra em 2050. Os outros dois agregados aumentam o seu peso relativo durante o período considerado, tornando-se, presentemente o Índico o conjunto de maior população em termos absolutos; e isso acontece a despeito do reforço estatístico que o Oriente recebeu em 2000, com a integração das cinco repúblicas ex-soviéticas que, naquele ano, tinham 55.6 M de pessoas, 69.8 M em 2016 e uma expectativa de atingirem 94.4 M em 2050.

                           Repartição da população da Ásia Central e Oriental

Para essa situação, contribuem, certamente, as situações dos dois países mais populosos do conjunto Oriente. O Japão tem um volume populacional quase estagnado desde 1990 e é considerado como um país muito envelhecido, com baixa taxa de natalidade e, para mais, pouco propenso à chegada de imigrantes. A China, como se verá adiante, apresenta um dinamismo demográfico muito baixo, certamente ligado à política do filho único que, entretanto, foi abandonada; e que, provavelmente, colocará em causa a previsão feita pela ONU, para 2050.

Índico

O conjunto dos países do Índico multiplica cerca de 2.5 vezes a sua população no período 1970/2016; é o conjunto da Ásia Central e Oriental com maior crescimento demográfico. A sua taxa anual de crescimento demográfico supera os 2.6% nas décadas de 80 e 90 decaindo, gradualmente depois, até atingir 0.8% no hexénio 2010/16, um crescimento anual que é também apontado para os 34 anos seguintes, até 2050.

Convém sublinhar que a Índia representa 76% da população total da região Índico em 1970 e 74.2% em 2016 enquanto o Paquistão – que tem a segunda maior população -  no mesmo período, passa de 8% para 10.8% do total. Isto significa que os dois países em todo esse período acrescem ligeiramente a sua representantividade no conjunto, embora se observe uma pequena alteração na relação entre si, a favor do Paquistão. Nas previsões para 2050 eleva-se mais o peso do Paquistão (13.4%) em detrimento da Índia (72.5%), o que não altera a grande desproporção entre o peso demográfico dos dois países.

Os ritmos de crescimento populacional reduzem-se com bastante regularidade até 2016, mormente nas Maurícias e no Sri Lanka, a partir da década de 90. Quanto ao crescimento demográfico, o Butão destaca-se nas décadas de 80 e 90, as Maldivas durante o século XXI e o Paquistão em quase todo o período considerado.

Quanto às perspetivas para 2050, elas são conservadoras para a maior parte dos países, destacando-se a regressão populacional prevista para as Maurícias e o elevado acrescimo demográfico anual admitido para o Paquistão no período 2016/50 (1.73%). Para o conjunto da região Índico o crescimento populacional previsto até 2050 é de 0.83%, por ano.

Oriente

Como atrás referimos, este é o conjunto de países com menor dinamismo populacional no período 1970/2016; isto é, a sua população apresenta “apenas” um aumento de 70%. A sua taxa anual de crescimento demográfico, reduz-se gradualmente em todo o período considerado, face a 1970, começando por 2% anuais na década terminada em 1980, atingindo 0.32% em 2010/16 e prevendo-se até 2050 uma quebra anual de 0.05%.

A grande população da China (sem contar com as regiões administrativas de Macau e Hong-Kong) dota o país de uma representatividade enorme no conjunto – sempre acima dos 80% do total, seguindo-se o Japão mas, com uma representatividade decrescente – 10.5% em 1970 contra 7.5% em 2016 e com uma quebra prevista para 6.5% em 2050.

Os acréscimos populacionais mais robustos notam-se na Mongólia, nas décadas de 70 e 80 que passam a ser mais modestos posteriormente. Macau apresenta taxas de crescimento demográfico elevadas, no contexto regional, a partir da década de 80, a par com o Tadjiquistão, neste caso depois da década de 2000/10, não se dispondo de dados para períodos anteriores.

Quanto a casos de regressão populacional, destaca-se o Japão a partir dos anos 80, ao qual se juntam Taiwan e a Coreia do Sul, no período 2010/16. Estes três países, bem como a China são objeto de perspetivas de redução populacional no período posterior a 2016.

Os ritmos de crescimento populacional previstos para 2016/50 mostram-se mais elevadas nos países da Ásia Central e ainda, em Macau.

Sudeste

Para o período 1970/2016 a população do conjunto de países que incluímos como Sudeste asiático cresceu 2.3 vezes, um valor próximo do observado na região do Índico como observámos atrás. As taxas anuais de crescimento populacional reduzem-se paulatinamente, a partir de 2.7% na década de 70, para 1.9% nos anos finais do século XX até aos 0.8% no hexénio fechado em 2016; um pendor que se situa perto do estimado até 2050 (0.73% por ano).

No capítulo dos países mais populosos da região, no Sudeste não se encontra um domínio avassalador de um apenas, como acontece com a China no Oriente e a Índia no Índico. O país que mais se destaca no sudeste asiático é a Indonésia com 45.4% da população total em 1970, um valor que se reduz para 44.3% em 2016 e com uma ligeira perda prevista para 2050 (43.7%). O Vietnam posiciona-se em segundo lugar com 17.1% em 1970 e, embora nunca reduza a sua população, cede essa posição relativa para as Filipinas, com 14.1% do total em 1970 mas 17.5% do total em 2016, com uma previsão de 20.6% para 2050.

O Brunei apesar de ter uma população reduzida (423 milhares em 2016) é o país com o maior crescimento demográfico tomando 1970 como base (3.3 vezes, nesse lapso de 46 anos). A Malásia e as Filipinas colocam-se no segundo posto da dinâmica demográfica (2.8 vezes de aumento populacional em 1970/16). O mais baixo crescimento demográfico observa-se nitidamente na Tailândia, cuja população aumentou 1.9 vezes no período considerado. Um caso muito especial é o do Cambodja que tem um retrocesso demográfico de 4.3% na década de 70, como fruto de sangrentas disputas internas, de uma massiva fuga para a Tailândia, para lá da guerra resultante da invasão vietnamita e da prevalência de um regime político de dementes; porém, passou a recuperar rapidamente nas décadas seguintes (2.3 vezes em todo o período 1970/2016).

As previsões para 2050 colocam em Timor-Leste o crescimento demográfico mais robusto (2.7% anuais), seguindo-se-lhe com indicadores superiores à taxa anual de 1%, as Filipinas, o Cambodja e o Laos. A Tailândia apresenta-se, na região, como o único caso de previsível regressão populacional enquanto o mais baixo crescimento populacional se aponta para a rica Singapura (0.5% anuais).

Crescimento populacional previsto para a Ásia Central e Oriental em 2050 face a 2016 (% anual)




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[1] Hoje  (2016) essa desproporção é muito maior; 1700 M para o território acima referido contra 64 M da Grã-Bretanha
[3] Índico – Bangla Desh, Butão, Índia, Maldivas, Maurícia, Myanmar, Nepal, Paquistão, Sri Lanka
Oriente – Guam, Cazaquistão, Coreia do Norte, Coreia do Sul, China (incl. Hong Kong, Macau),  Japão, Mongólia, Palau, Quirziguistão, Taiwan, Tadjiquistão, Turquemenistão, Uzbequistão
Sudeste – Brunei Durassalam, Cambodja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Tailândia, Timor-Leste, Vietnam

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