Quantcast
Channel: Free Pages
Viewing all articles
Browse latest Browse all 4904

A CRIAÇÃO DA NATO: OBJECTIVO E FINALIDADE

$
0
0





Excertos do livro “Guerra Nuclear – O Dia Anterior”, de Manlio Dinucci, sobre a criação e finalidade da NATO:



Em 29 de Agosto de 1949, a União Soviética efectua a sua primeira explosão experimental de um engenho de plutónio. Agora também a URSS tem a Bomba. Começa neste ponto, a corrida aos armamentos nucleares entre as duas super potências.

Naquele mesmo ano, em 4 de Abril de 1949, é fundada a NATO, compreendendo, durante a guerra fria, dezasseis países: Estados Unidos da América, Canadá, Bélgica, República Federal da Alemanha, Grã-Bretanha, Grécia, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Holanda, Portugal, Espanha e Turquia. Através desta aliança, os EUA mantém o seu domínio sobre os aliados europeus, usando a Europa como primeira linha no confronto, também nuclear, com o Pacto de Varsóvia. Este último, (o Pacto de Varsóvia) em 14 de Maio de 1955 (seis anos depois da NATO), compreende a União Soviética, a Bulgária, a Checoslováquia, a Polónia, a República Democrática da Alemanha, Roménia, Hungria, Albânia (de 1955 a 1968).

Enquanto se inicia o confronto nuclear entre os EUA e a URSS, a Grã Bretanha e França, ambos membros da NATO, diligenciam dotar-se de armas nucleares. A primeira a conseguir é a Grã-Bretanha: enquanto colabora no programa nuclear dos Estados Unidos, inicia em 1945 um programa próprio destinado à produção da bomba de plutónio. Embora uma lei, aprovada em Washington em 1946, lhes impeça (ao menos oficialmente) de aceder às informações sobre o desenvolvimento das armas nucleares americanas, em 3 de Outubro de 1952, consegue efectuar na Austrália, a sua primeira explosão experimental.

Isto aumenta a vantagem da NATO, que aumenta posteriormente, quando, no dia 1 de Novembro do mesmo ano, os Estados Unidos fazem explodir a sua primeira bomba H (de hidrogénio). No da 1 de Março de 1954, os EUA conduzem o teste Bravo no atol de Bikini, no Pacífico, fazendo explodir uma bomba H de 17 megaton, 1.300 vezes mais potente do que a de Hiroshima. Naquele momento, os EUA têm quase 850 armas nucleares, enquanto a URSS possui cerca de 50.

A «ofensiva de desarmamento» é  lançada pela União Soviética de Gorbacev: em 15 de Janeiro de 1986, propõe não só eliminar os mísseis soviéticos e americanos de alcance médio (o que é feito sucessivamente), mas de estabelecer um programa global, em três fases, para a proibição da armas nucleares em 2000. 

Em Washington sabem, portanto, que Gorbacev quer verdadeiramente o desarmamento, que ele quer, de facto, a eliminação completa das armas nucleares. Mas sabem também que o processo da perestroika, posto em movimento por Gorbacev em 1986, provocou uma reacção em cadeia que está não só a desagregar o Pacto de Varsóvia, mas a própria União Soviética.

A «Queda do Muro de Berlim», em 9 de Novembro de 1989, assinala o início do fim. Simultaneamente, a desagregação da URSS e a profunda crise política e económica que aflige a Rússia assinalam o fim da super potência capaz de rivalizar com a americana.

Nesta altura, o mundo está numa encruzilhada. A decisão de qual dos dois caminhos escolher e seguir está substancialmente nas mãos de Washington: de um lado está a possibilidade de iniciar um verdadeiro processo de desarmamento, começando por estabelecer, consoante as linhas da proposta de Gorbachev, um programa destinado à eliminação completa das armas nucleares, que, se lançado conjuntamente por Washington e Moscovo, poderia envolver, também, as outras potências nucleares; do outro lado, está a possibilidade de aproveitar o desaparecimento da super potência rival para aumentar a superioridade estratégica, incluindo a superioridade nuclear, dos Estados Unidos da América, que permaneceu a única super potência na cena mundial. Sem um instante de hesitação, Washington tomou o segundo caminho.


A expansão da NATO para Leste, em direcção à Rússia


No mesmo ano – em 1999 – em que lança a guerra contra a Jugoslávia e anuncia querer «conduzir operações de resposta às crises, não previstas no Artigo 5, fora do território da Aliança», a NATO inicia a sua expansão para Leste

A mesma engloba os três primeiros países do antigo Pacto de Varsóvia: Polónia, República Checa e Hungria.

Em seguida, em 2004, estende-se a outros sete países: Estónia, Letónia, Lituânia (já parte da URSS); Bulgária, Roménia, Eslováquia (já parte do Pacto de Varsóvia; Eslovénia (já parte da Federação Jugoslava). Na cimeira de Bucareste, em Abril de 2008, fica decidida a entrada da Albânia, no ano seguinte (antigo membro do Pacto de Varsóvia) e Croácia (já parte da Federação Jugoslava).

Ao fazê-los entrar na NATO, Washington liga pouco estes países à Aliança, mas, sim, directamente aos EUA. A Roménia e a Bulgária colocam de imediato à disposição dos Estados Unidos, as importantes bases militares de Costanza e Burgas, no Mar Negro.

A República Checa garante a disponibilidade do seu território para deslocação de rampas de mísseis do «escudo anti-missil» USA.

A Lituânia, antes mesmo de entrar na NATO, começa a adquirir armamentos norte-americanos, a partir de 60 mísseis Stinger, num valor de 30 milhões de dólares.

A Polónia compra, em 2002, 48 caças F-16 da empresa bélica americana, Lockheed Martin e, para pagá-los, utiliza um empréstimo feito aos EUA de quase 5 biliões de dólares(com interesses não só financeiros, mas, também, políticos).

Sob a orientação de Washington, a Bulgária procede a uma drástica purga nas suas forças armadas, eliminando milhares de oficiais (considerados não totalmente confiáveis) para substitui-los por 2.000 oficiais jovens e fidedignos, formados por instrutores americanos e capazes de falar um óptimo inglês, de facto, americano.

Deste modo, os EUA reforçam ainda mais, a sua influência na Europa. Dos dez países da Europa Central e Oriental, que entram na NATO, entre 1999 e 2004, sete entram na União Europeia, entre 2004 e 2007: à União Europeia, que se alarga para Leste, os EUA sobrepõem a NATO, que se estende igualmente para Leste, na Europa. O verdadeiro objectivo da operação, é revelado pelos funcionários do Pentágono: os dez países da Europa Central e Oriental entrados na NATO – como eles declaram em 2003 - «estão a assumir posições relevantes pró-EUA – reduzindo eficazmente a influência das potências da velha Europa, como a Alemanha e a França. Assim, revela-se claramente, o desenho estratégico de Washington: incentivar os novos membros do Leste, para estabelecer na NATO relações de força ainda mais favoráveis aos Estados Unidos e, assim, isolar a «velha Europa» que poderia, um dia, tornar-se autónoma.

A expansão da NATO, para Leste, além do mais, tem outras implicações. Englobando não só os países do Pacto de Varsóvia, mas também as três repúblicas bálticas que, em tempos, fizeram parte da URSS, a NATO chega às fronteiras da Federação Russa. Não obstante as garantias de Washington sobre as intenções pacíficas da NATO, ela constitui uma ameaça, também nuclear, para a Rússia.

Para tranquilizar a Rússia, a NATO afirma «não ter intenções, nem planos, de instalar armas nucleares nos territórios dos novos membros» da Europa Central e Oriental.  Quanto vale esse compromisso, demonstra o facto da NATO, depois de ter prometido solenemente, não manter unidades de combate no território dos países da Europa Central e Oriental, no processo de entrar ou já entrados na Aliança, logo a seguir usa a base aérea húngara de Taszar, como o principal centro logístico das forças americanas a operar nos Balcãs.

O compromisso de não instalar armas nucleares nos países da Europa Central e Oriental é desmentido pelo facto de que, entre as armas nucleares mantidas pelos EUA, na Europa, no quadro da NATO, estão  «bombas nucleares para aviões de dupla capacidade». Visto que os aviões deste tipo, como os F-16 da Força Aérea dos EUA e os 48 comprados pela Polónia, estão em funcionamento nos países da Europa Central e Oriental que entraram na NATO, a sua presença nestas bases avançadas, constitui uma ameaça nuclear potencial, nas fronteiras da Rússia.

A «nova missão» da NATO é oficializada na Cimeira de Setembro de 2014, no País de Gales,  lançando o «Readiniess Action Plan», cujo objectivo oficial é de «responder, rápida e firmemente, aos novos desafios à segurança», atribuídos à «agressão militar da Rússia contra a Ucrânia» e ao «aumento do extremismo e dos conflitos sectários no Médio Oriente e no Norte de África». O plano é definido pelo Secretário Geral da NATO, Jens Stoltenberg,  como «o maior reforço da nossa defesa colectiva desde o fim da guerra fria».

Em apenas três meses, a NATO quadriplica os caça-bombardeiros, duplica a capacidade convencional e nuclear, implantada na região báltica (antes parte da URSS); envia radares aéreos AWACS para a Europa Oriental e aumenta o número dos navios de guerra no Mar Báltico, Mar Negro e no Mediterrâneo; instala na Polónia, Estónia, Letónia e Lituânia forças terrestres americanas, britânicas e alemãs; intensifica os exercícios conjuntos na Polónia e nos Países Bálticos, aumentando-os para mais de 200.

A partir desse momento, a pressão USA/NATO sobre a Rússia cresce em progressão geométrica.Em quatro anos, de 2014 a 2018, os EUA gastam 10 biliões de dólares na «Iniciativa de Segurança da Europa» (ERI), cujo objectivo oficial é «aumentar a nossa capacidade de defender a Europa contra a agressão russa». Quase metade da despesa serve para potenciar o «pré-posicionamento estratégico» USA na Europa, ou seja, os depósitos de armamento que, colocados em posição avançada, permitem «uma rápida deslocação das forças armadas no teatro bélico». Outra grande parte é destinada a «aumentar a presença, com base rotativa, das forças americanas em toda a Europa». As porções restantes servem para o desenvolvimento das infra-estruturas das bases na Europa para «aumentar a prontidão da acção USA», à potencialização dos exercícios militares e ao treino para «aumentar a prontidão e a capacidade de interacção das forças da NATO».

Os fundos da ERI – esclarece o Comando Europeu dos Estados Unidos - são apenas uma parte dos que estão destinados à «Operação Atlantic Resolve, que demonstra a capacidade USA de responder às ameaças contra os aliados». No âmbito dessas operações, é transferida de Fort Carson (Colorado), para a Polónia,em Janeiro de 2017, a 3ª Brigada couraçada, composta de 3.500 homens, 87 tanques, 18 obuseiros de auto-lançamento, 144 veículos de combate Bradley, mais 400 Humvees (Veículos Automóveis Multifunções de Alta Mobilidade)  e 2.000 veículos de transporte. A 3ª Brigada couraçada será substituída a seguir por outra unidade, assim as forças couraçadas americanas são permanentemente deslocadas no território polaco. Os seus departamentos são transferidos, para treinos e exercícios, para outros países de Leste, sobretudo para a Estónia, Letónia, Lituânia, Bulgária, Roménia e mesmo Ucrânia, ou seja, são continuamente instalados à volta da Rússia.

Sempre no contexto de tais operações, é transferida para a base de Illesheim (na Alemanha) de Fort Drum (em New York), a 10ª Brigada Aére de Combate, com mais de 2.000 homens e uma centena de helicópteros de guerra. De Illesheim, duas 'task force' são enviadas  para «posições avançadas» na Polónia, Roménia e Letónia. Nas bases de Ämari (Estónia) e Graf Ignatievo (Bulgária), são distribuídos caça-bombardeiros USA e NATO, compreendendo Eurofighter italianos, para o «patrulhamento aéreo» do Báltico. A operação prevê, também, «uma presença continuada no Mar Negro», na base aérea de Kogalniceanu (Roménia) e na de treino de Novo Selo (Bulgária).

O General Curtis Scaparrotti, Chefe do Comando Europeu dos EUA e, ao mesmo tempo, Comandante Supremo Aliado na Europa, assegura que «as nossas forças estão preparadas e posicionadas para barrar a agressão russa». Um contingente USA é posicionado na Polónia oriental, no designado «Suwalki Gap», um trecho de terreno plano com cerca de cem quilómetros de comprimento que, avisa a NATO, «seria uma passagem perfeita para os tanques russos». É, assim, desenterrado o armamento da propaganda da velha guerra fria:  o dos tanques russos prontos a invadirem a Europa. Agitando o fantasma de uma ameaça do Leste, que não existe, chegam de facto à Europa os tanques dos Estados Unidos.

Finalidade

O plano é claro. Depois de ter provocado com o putsch da Praça Maidan, um novo confronto com a Rússia, Washington (não obstante a mudança de Administração do Presidente Obama pela do Presidente Trump) segue a mesma estratégia: transformar a Europa na primeira linha de uma nova guerra fria, com vantagem para os interesses dos Estados Unidos e para as suas relações de forças com as maiores potências europeias.

Na instalação no flanco oriental – compreendendo forças couraçadas, caça-bombardeiros, navios de guerra e unidades de mísseis nucleares – participam as potências europeias da NATO, como demonstra o envio de tropas francesas e de tanques britânicos para a Estónia. Fala-se, neste período, de um «exército» europeu, mas no encontro dos Ministros de Defesa da União Europeia, em Abril de 2017, em Malta, o Secretário Geral da NATO, Stoltenberg, esclarece em que termos: «Ficou claramente estabelecido, da parte da União Europeia, que o seu objectivo não é constituir um novo exército europeu ou estrutura de comando em competição com a NATO, mas algo que seja complementar ao que a NATO faz».

O Art. 42 do Tratado da União Europeia estabelece que «a política da União respeita as obrigações de alguns Estados membros, os quais consideram que a sua defesa comum se realiza através da Organização do Tratado do Atlântico Norte». Visto que são membros da Aliança, 22 dos 28 países da União Europeia (21 em 27 com a saída da Grã Bretanha da UE), torna-se evidente o predomínio da NATO. Para evitar equívocos, o protocolo nr. 10 sobre a cooperação instituída pelo art. 42 sublinha que a NATO «permanece o fundamento da defesa colectiva» da União Europeia, e que «um desempenho mais forte da União em matéria de segurança e defesa, contribuirá para a vitalidade de uma Aliança Atlântica renovada». O bastão do comando permanece, portanto, do Comandante Supremo Aliado na Europa, um general americano nomeado pelo Presidente dos Estados Unidos.

Para reforçar mais ainda, a sua influência na Europa, os Estados Unidos promovem a «Iniciativa dos três Mares», que é lançada em Julho de 2017, na ocasião da visita do Presidente Trump a Varsóvia. 

A Polónia, definida pela Casa Branca como um país «fiel aliado NATO e um dos mais intímos amigos da América» é a ponta de lança da estratégia USA/NATO que arrastou a Europa para uma nova guerra fria com a Rússia. Aos olhos de Washington, ela tem todas as características para assumir outra tarefa exigente, a de orientar a «Iniciativa Três Mares», um novo projecto que reúne 12 países compreendidos entre o Mar Báltico, o Mar Negro e o Mar Adriático: Polónia, Lituânia, Letónia, Estónia, Hungria, República Checa, Austria, Bulgária, Roménia, Croácia, Eslováquia e Eslovénia. Estes países são membros da União Europeia e ao mesmo tempo, todos eles, excepto a Austria, são membros da NATO sob comando USA, mais ligados a Washington do que a Bruxelas. O objectivo oficial do novo projecto é «ligar as economias e as infra-estruturas da Europa Central e Oriental, de Norte a Sul, alargando a cooperação nos sectores da energia, dos transportes, das comunicações digitais e da economia, em geral, para tornar a Europa Central e Oriental mais segura e competitiva». Os EUA pensam isso. 

No seu discurso na Conferência dos Três Mares, o Presidente Trump «concentra-se no desenvolvimento das infra-estruturas e na segurança energética, evidenciando, entre outras, as primeiras expedições do LNG (gás natural liquefeito) americano para a Polónia.». Um terminal no porto báltico de Swinoujscie, custando cerca de um bilião de dólares, permite à Polónia importar LNG americano na medida inicial de 5 biliões de metros cúbicos/ano. Através deste e de outros terminais, entre os quais um projectado na Croácia, o gás proveniente dos USA ou de outros países através de companhias americanas, será distribuído através de gasodutos especiais para toda a «região dos Três Mares». O objectivo do plano é claro: atacar a Rússia, fazendo diminuir a sua exportação de gás na Europa (objectivo realizável apenas se a exportação do gás USA, mais cara do que o russo, for incentivada com fortes subsídios estatais) ligar ainda mais aos EUA, a Europa Central e Oriental, não só militarmente, mas também economicamente, em concorrência com a Alemanha e outras potências europeias. Assim, o objectivo do plano, é criar dentro da Europa, uma macro região (a dos Três Mares) de soberania limitada, directamente sob a influência USA, que acabe, de facto, com a União Europeia e se alargue à Ucrânia e mais além.  

A máquina bélica USA, a mais potente jamais vista na História, requer uma despesa militar de longe superior ao gasto de todos os outros países. O orçamento do Pentágono para o ano fiscal de 2018 sobe a 700 biliões de dólares, mais de quanto gastam os outros nove países que figuram na lista dos dez com as maiores despesas militares do mundo: China, Arábia Saudita, Rússia, Grã-Bretanha, Índia, França, Japão, Alemanha e Coreia do Sul.

Para a aprovação do orçamento do Pentágono é decisivo o voto por unanimidade, da Comissão dos Serviços Armados, formada por 14 senadores republicanos e 13 democratas. A Comissão sublinha que «os Estados Unidos devem reforçar a dissuasão da agressão russa: a Rússia continua a ocupar a Crimeia, a criar instabilidade na Ucrânia, a minar os nossos aliados NATO, a violar o Tratado INF de 1987 sobre as forças nucleares de raio intermédio e a apoiar o regime de Assad na Síria». Acusa, também a Rússia de conduzir «um ataque sem precedentes aos nossos interesses e valores fundamentais», em particular, através de «uma campanha decidida a minar a democracia americana». Com tais motivações a coligação dos dois partidos justifica o reforço de toda a máquina bélica americana.

Para o orçamento do Pentágono referente a 2018, o Congresso autoriza 60 biliões a mais do que o que foi pedido pela Administração Trump. Adicionando outros orçamentos de carácter militar, entre os quais o do Departamento para os Assuntos dos Veteranos (que se ocupa dos militares na reserva) e o das armas nucleares, inscrito no Departamento da Energia – as despesas militares totais dos Estados Unidos montam a cerca de 1 trilião de dólares, ou seja, um quarto do orçamento federal.

Esta trama extensa e profunda de interesses forma o complexo militar-industrial americano, cujos lucros e poderes aumentam na medida em que aumentam as tensões e as guerras. Confirma-o o facto de que, enquanto os seus lucros eram diminutos, depois do fim da Guerra Fria, cresceram fortemente após o 11 de Setembro. 

O complexo militar-industrial influi em todos os níveis, desde a Casa Branca aos simples Estados, sobre as escolhas políticas que conduzem à guerra, escolhas que, na realidade, são feitas por grupos restritos representativos dos poderes máximos (económico-financeiros, políticos, militares), verdadeiras cúpulas acima das instituições, que se reúnem informal e secretamente para discutir e decidir a estratégia. Através das suas ligações estreitas com a Comunidade dos Serviços Secretos (Inteligência), o complexo militar-industrial tem na mão todos os instrumentos para provocar tensões internacionais e consequentes intervenções militares, com o apoio das grandes cadeias de comunicação social mediática e da consequente maioria da opinião pública interna e internacional. Em poucas palavras, o complexo militar-industrial é um organismo tentacular que, para viver e desenvolver-se, tem necessidade de usar como oxigénio, a guerra. E visto que a força militar é necessária aos grandes grupos financeiros e às multinacionais para manter a sua supremacia no mundo, não é só o complexo militar-industrial, mas todo o sistema económico e financeiro dominante, no qual se baseiam os Estados Unidos da América, a ter necessidade da guerra e, em última análise, também da guerra nuclear.

A pressão militar USA no Mar da China Meridional e na Península Coreana, dirigida contra a China, a guerra USA/NATO no Afeganistão, Médio Oriente e África, o empurrão USA/NATO na Ucrânia e o consequente confronto com a Rússia, caem na mesma estratégia de contraste à parceria russo-chinesa e à sua tentativa de remodelar a ordem económica e política global. Na mesma estratégia está o plano de minar os BRICS a partir de dentro, elevando a direita ao poder em Brasília e em toda a América Latina. É confirmado pelo comandante do US Southern Command, cuja área de operações compreende a América do Centro e Sul: numa audiência no Senado acusa a Rússia e a China de exercer uma «influência maligna» na América Latina, para também fazer avançar aí «a sua visão de uma ordem internacional alternativa».

Num memorando transmitido em Outubro de 2017 às Forças Armadas dos Estados Unidos, o Secretário da Defesa, Jim Mattis, faz uma verdadeira declaração de guerra: «Somos um Departamento em guerra. Devemos estar preparados para enfrentar uma situação de segurança global cada vez mais complexa, caracterizada por um declínio acelerado da gestão da ordem internacional baseada em regras. A Rússia violou as fronteiras das nações vizinhas e quer ter poder de veto sobre as decisões económicas, diplomáticas e de segurança dos seus vizinhos. A China é um adversário estratégico a longo prazo, que atemoriza os seus vizinhos enquanto aumenta as tensões no mar da China Meridional. Para a segurança e a estabilidade global, é necessário que as nossas Forças Armadas permaneçam a força de combate mais potente do mundo. Devemos dar prioridade a um dissuasor nuclear seguro e fiável, colocar em campo uma força convencional decisiva e manter uma capacidade fundamental de conduzir uma guerra não-convencional». No final da proclamação, antes da assinatura, o Chefe do Pentágono escreve à mão, em letras maiúsculas, «CHARGE!» («CARREGAR!»).

Os Estados Unidos da América são o único país a ter uma presença militar à escala global, em cada continente e região do mundo. O Pentágono é directamente proprietário de 4.800 bases e outras instalações militares, quer nos USA, quer no estrangeiro, compreendendo 560.000 edifícios e estruturas (tipo estruturas ferroviárias, oleodutos e pistas de aeroportos). Segundo os dados oficiais do Pentágono, os Estados Unidos têm cerca de 800 bases e outras instalações militares em mais de 70 países, sobretudo em volta da Rússia e da China, muitas mais em uso ou secretas. Essas bases servem para uma rotação contínua de forças, que são aumentadas rapidamente com as transferidas das bases dos Estados Unidos, para concentrá-las em determinados teatros bélicos. Os países onde são distribuídas tropas americanas, compreendendo aqueles que não têm bases militares, são mais de 170. Entre militares, empregados civis e familiares, o Pentágono mantém permanentemente no estrangeiro cerca de meio milhão de cidadãos americanos.

O Poder dominante baseia a sua força não só em instrumentos políticos, económicos e militares, mas sobre o controlo da mente, propósito possível através de um aparelho mediático globalmente difundido que, sobretudo através da televisão, induz a acreditar que existe apenas aquilo que se vê e não existe o que não se vê.

O controlo da mente através do aparelho mediático dominante permite, por um lado, tranquilizar a opinião pública escondendo as ameaças reais, por outro lado, alarmá-la, fazendo abrir, de vez em quando, hologramas de inimigos perigosos (hoje novamente o adversário russo, personificado por Putin), para, deste modo, justificar políticas de rearmamento, operações militares e guerras. E, sempre em função do controlo da mente, acreditar-se no espectáculo de que, depois de ter sustentado as guerras que demolindo Estados na totalidade (o último, o Estado da Líbia), provocaram êxodos de massas, hoje estão na primeira fila para acolher de braços abertos, as vítimas dessas mesmas guerras.

A grande maioria não sabe mesmo nada ou quasi nada, dos mecanismos que determinam a sempre, cada vez mais rápida escalada de guerra, tornando sempre mais real o cenário da terceira (e última)guerra mundial: a guerra termonuclear

Fala-se nos círculos restritos dos «viciados no trabalho», no «sal e pimenta» (em referência à cor do cabelo) dos quais os jovens estão em grande parte ausentes. Trata-se de sair do fechado, encontrando formas e idiomas para fazer compreender que o tempo se está a esgotar, que é necessário movermo-nos enquanto estamos a tempo. Por outras palavras, levar as pessoas a reagir, como baseados no institnto de sobrevivência reagiriam os habitantes de um condomínio se vissem que alguém acumular explosivos no porão de arrumos comum. Pelo contrário, quase ninguém reage, porque a maioria desconhece ou não sabe do que se trata, enquanto os Estados Unidos acumulam explosivos nucleares debaixo dos nossos pés.

O que devemos fazer, está nas mãos de cada um de nós. É necessário que cada um faça qualquer coisa, mesmo que seja pequena, mas que seja real, para trazer atrasar o relógio do Apocalipse. É o caminho obrigatório através do qual passa cada escolha para o futuro. O relógio do Apocalipse está a assinalar, apenas, as horas de um mundo sem futuro.



Viewing all articles
Browse latest Browse all 4904